08 novembro 2008

Interlúdio com Florbela Espanca (08/12)

Busto de Florbela Espanca - Vila Viçosa - Por
1894 -1930 A Poetisa Florbela Espanca é a minha favorita, Escolhi 36 textos para minha singela homenagem, um escrito para cada ano de sua vida.

Poetas
Ai as almas dos poetas 
Não as entende ninguém; 
São almas de violetas 
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida, 
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer 
Ouvem as rosas chorar! 
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas 
É que em noites de luar 
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras 
Que nunca arrastou ninguém 
Tenho alma pra sentir 
A dos poetas também! Ser poeta 
Ser poeta é ser mais alto, 
é ser maior Do que os homens! 
Morder como quem beija! 
É ser mendigo e dar como quem seja 
Rei do Reino de Aquém e de 
Além Dor! 
É ter de mil desejos o esplendor 
E não saber sequer que se deseja! 
É ter cá dentro um astro que flameja, 
É ter garras e asas de condor! 
É ter fome, é ter sede de Infinito! 
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... 
é condensar o mundo num só grito! 
E é amar-te, assim, perdidamente... 
É seres alma, e sangue, e vida em mim 
E dizê-lo cantando a toda a gente!

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FUMO

Longe de ti são ermos os caminhos, 

Longe de ti não há luar nem rosas; 

Longe de ti há noites silenciosas,

 Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos 

Perdidos pelas noites invernosas... 

Abertos, sonham mãos cariciosas, 

Tuas mãos doces plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...

 Há crisântemos roxos que descoram... 

Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! 

E ele é, ó meu amor pelos espaços, 

Fumo leve que foge entre os meus dedos...

O NOSSO MUNDO

Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos 

Como um divino vinho de Falerno! 

Poisando em ti o meu amor eterno

 Como poisam as folhas sobre os lagos...

Os meus sonhos agora são mais vagos... 

O teu olhar em mim, hoje, é mais terno... 

E a Vida já não é o rubro inferno 

Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, quer vivê-la! 

Na mesma taça erguida em tuas mãos, 

Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?... 

Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?... 

O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...

flor do tojo - florescendo na charneca Charneca em flor
Enche o meu peito, num encanto mago, 
O frémito das coisas dolorosas... 
Sob as urzes queimadas nascem rosas... 
Nos meus olhos as lágrimas apago... 
Anseio! Asas abertas! 
 O que trago Em mim? 
 Eu oiço bocas silenciosas 
Murmurar-me as palavras misteriosas 
Que perturbam meu ser como um afago! 
E, nesta febre ansiosa que me invade, 
Dispo a minha mortalha, o meu burel, 
E já não sou, Amor, Soror Saudade... 
Olhos a arder em êxtases de amor, 
Boca a saber a sol, a fruto, a mel: 
Sou a charneca rude a abrir em flor
Não ser 
 Ah! arrancar às carnes laceradas 
Seu mísero segredo de consciência! 
Ah! poder ser apenas florescência 
De astros em puras noites deslumbradas! 
 Ser nostálgico choupo ao entardecer,
 De ramos graves, plácidos, absortos 
Na mágica tarefa de viver! 
 Quem nos deu asas para andar de rastos? 
Quem nos deu olhos para ver os astros -
 Sem nos dar braços para os alcançar?!... clique sobre a imagem para ampliar: Languidez 
Fecho as pálpebras roxas, quase pretas, 
Que poisam sobre duas violetas, 
Asas leves cansadas de voar... 
E a minha boca tem uns beijos mudos... 
E as minhas mãos, uns pálidos veludos, 
Traçam gestos de sonho pelo ar... Fanatismo 
  Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida 
Meus olhos andam cegos de te ver! 
Não es sequer razão do meu viver, 
Pois que tu es já toda a minha vida! 
Não vejo nada assim enlouquecida... 
Passo no mundo , meu Amor, a ler 
No misterioso livro do teu ser 
A mesma história tantas vezes lida! "
Tudo no mundo é frágil, tudo passa... 
" Quando me dizem isto, toda a graça 
Duma boca divina fala em mim! 
E, olhos postos em ti, digo de rastros: 
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros, 
Que tu es como Deus: Princípio e Fim!..." TEUS OLHOS
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!
Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Berço vindo do Céu à minha porta...
Ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...
***
Amiga 
Deixa-me ser a tua amiga, 
Amor, A tua amiga só, 
já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor 
A mais triste de todas as mulheres. 
  Que só, de ti, me venha magoa e dor 
O que me importa a mim? 
O que quiseres É sempre um sonho bom! 
Seja o que for, Bendito sejas tu por mo dizeres! 
  Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho... 
Como se os dois nascessemos irmãos, 
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho... 
  Beija-mas bem!... 
Que fantasia louca 
Guardar assim, fechados, nestas mãos, 
Os beijos que sonhei pra minha boca!...
 
  Eu tenho pena da Lua! 
Tanta pena, coitadinha, 
Quando tão branca, na rua 
A vejo chorar sozinha!… 
  As rosas nas alamedas, 
E os lilases cor da neve 
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas 
Só a triste, coitadinha… 
Tão triste na minha rua 
Lá anda a chorar sozinha … 
Eu chego então à janela: 
E fico a olhar para a lua… 
E fico a chorar com ela! … 
Florbela Espanca - Trocando olhares - 23/04/1917 A um livro

No silêncio de cinzas do meu 

Ser Agita-se uma sombra de cipreste,

 É uma sombra triste que ando a ler, 

No livro cheio de mágoa que me deste!

Estranho livro aquele igual a mim! 

Cheira a mortos a rir e a cantar… 

É dum branco sinistro de jasmim. 

Que só me dá vontade de chorar!

Parece que folheio toda a minh´alma! 

O livro que me deste, em mim salma 

As orações que choro e rio e canto!

Poeta igual a mim, ai quem me dera 

Dizer que tu dizes! 

Quem soubera Velar a minha Dor desse teu manto!

Trocando olhares

O teu segredo 
 O mundo diz-te alegre porque o riso
Desabrocha em tua boca, docemente 
Como uma flor de luz! Meigo sorriso .
Que na tua boca poisa alegremente!

Chama-te o mundo alegre. 

Ai, meu amor, 

Só eu inda li bem nessa alegria!… 

Também parece alegre a triste cor 

Do sol, à tarde, ao despedir-se o dia!…

És triste; eu sei. 

Toda suavidade 

Tão roxa, como é roxa uma saudade 

É a tua alma, amor, cheia de mágoa.

Eu sei que és triste, sei. 

O meu olhar 

Descobriu o segredo, que a cantar 

Repoisa nos teus olhos rasos d’água!…

Trocando olhares - 06/06/1916

Esperas... 

Não digas adeus, ó sombra amiga, Abranda mais o ritmo dos teus passos; Sente o perfume da paixão antiga, Dos nossos bons e cândidos abraços! Sou a dona dos místicos cansaços, A fantástica e estranha rapariga Que um dia ficou presa nos teus braços… Não vás ainda embora, ó sombra amiga! Teu amor fez de mim um lago triste: Quantas ondas a rir que não lhe ouviste, Quanta canção de ondinas lá no fundo! Espera… espera… ó minha sombra amada… Vê que p’ra além de mim já não há nada E nunca mais me encontras neste mundo!… (in Antologia de Poetas Alentejanos)

Vaidade

A um grande poeta de Portugal

Sonho que sou a Poetisa eleita, Aquela que diz tudo e tudo sabe, Que tem a inspiração pura e perfeita, Que reúne num verso a imensidade ! Sonho que um verso meu tem claridade Para encher todo o mundo ! E que deleita Mesmo aqueles que morrem de saudade ! Mesmo os de alma profunda e insatisfeita ! Sonho que sou Alguém cá neste mundo ... Aquela de saber vasto e profundo, Aos pés de quem a Terra anda curvada ! E quando mais no céu eu vou sonhando, E quando mais no alto ando voando, Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ... Livro de mágoas (1919)

Doce Certeza

Por essa vida fora hás-de adorar Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca, Em infinito anseio hás de beijar Estrelas d´ouro fulgindo em muita boca!

Hás de guardar em cofre perfumado Cabelos d´ouro e risos de mulher, Muito beijo d´amor apaixonado; E não te lembrarás de mim sequer…

Hás de tecer uns sonhos delicados… Hão de por muitos olhos magoados, Os teus olhos de luz andar imersos!…

Mas nunca encontrarás p´la vida fora, Amor assim como este amor que chora Neste beijo d´amor que são meus versos!…

Trocando olhares - 06/06/1916

A maior Tortura A um grande poeta de Portugal Na vida, para mim, não há deleite. Ando a chorar convulsa noite e dia ... E não tenho uma sombra fugidia Onde poise a cabeça, onde me deite ! E nem flor de lilás tenho que enfeite A minha atroz, imensa nostalgia ! ... A minha pobre Mãe tão branca e fria Deu-me a beber a Mágoa no seu leite ! Poeta, eu sou um cardo desprezado, A urze que se pisa sob os pés. Sou, como tu, um riso desgraçado ! Mas a minha tortura inda é maior: Não ser poeta assim como tu és Para gritar num verso a minha Dor ! ... Súplica Olha pra mim, amor, olha pra mim; Meus olhos andam doidos por te olhar! Cega-me com o brilho de teus olhos Que cega ando eu há muito por te amar. O meu colo é arrninho imaculado Duma brancura casta que entontece; Tua linda cabeça loira e bela Deita em meu colo, deita e adormece! Tenho um manto real de negras trevas Feito de fios brilhantes d'astros belos Pisa o manto real de negras trevas alcatifa, oh faz, de meus cabelos! Os meus braços são brancos como o linho Quando os cerro de leve, docemente... Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te Nessa cadeia assim eternamente! ... Vem para mim,amor... Ai não desprezes A minha adoração de escrava louca! Só te peço que deixes exalar Meu último suspiro na tua boca!...

Versos de orgulho

O mundo quer-me mal porque ninguém Tem asas como eu tenho! Porque Deus Me fez nascer Princesa entre plebeus Numa torre de orgulho e de desdém!

Porque o meu Reino fica para Além! Porque trago no olhar os vastos céus, E os oiros e os clarões são todos meus! Porque Eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

O mundo! O que é o mundo, ó meu amor?! O jardim dos meus versos todo em flor, A seara dos teus beijos, pão bendito,

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços... São os teus braços dentro dos meus braços: Via Láctea fechando o Infinito! ...

Mistério Gosto de ti, ó chuva, nos beirados, Dizendo coisas que ninguém entende! Da tua cantilena se desprende Um sonho de magia e de pecados. Dos teus pálidos dedos delicados Uma alada canção palpita e ascende, Frases que a nossa boca não aprende, Murmúrios por caminhos desolados. Pelo meu rosto branco, sempre frio, Fazes passar o lúgubre arrepio Das sensações estranhas, dolorosas… Talvez um dia entenda o teu mistério… Quando, inerte, na paz do cemitério, O meu corpo matar a fome às rosas! ( Antologia de poetas Alentejanos) CARAVELAS

Cheguei a meio da vida já cansada De tanto caminhar! Já me perdi! Dum estranho país que nunca vi Sou neste mundo imenso a exilada.

Tanto tenho aprendido e não sei nada. E as torres de marfim que construí Em trágica loucura as destruí Por minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar-Morto, Mar sem marés, sem vagas e sem porto Onde velas de sonhos se rasgaram.

Caravelas doiradas a bailar... Ai, quem me dera as que eu deitei ao Mar! As que eu lancei à vida, e não voltaram!...

Noivado Estranho

O luar branco, um riso de Jesus, Inunda a minha rua toda inteira, E a Noite é uma flor de laranjeira A sacudir as pétalas de luz…

O luar é uma lenda de balada Das que avozinhas contam à lareira, E a Noite é uma flor de laranjeira Que jaz na minha rua desfolhada…

O luar vem cansado, vem de longe, Vem casar-se co´a Terra, a feiticeira Que enlouqueceu d´amor o pobre monge…

O luar empalidece de cansado… E a noite é uma flor de laranjeira A perfumar o místico noivado!…

Trocando olhares - 30/04/1917

Ando perdida nestes sonhos verdes De ter nascido e não saber quem sou, Ando ceguinha a tatear paredes E nem ao menos sei quem me cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago… E a minha alma cega, ao abandono Faz-me lembrar o nenúfar dum lago ´Stendendo as asas brancas cor do sonho…

Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo E não ver nada nesse mar sem fundo, Poetas meus irmãos, que triste sorte!…

E chamam-nos a nós Iluminados! Pobres cegos sem culpas, sem pecados, A sofrer pelos outros té à morte!

Trocando olhares - 24/04/1917

Meu coração da cor dos rubros vinhos Rasga a mortalha do meu peito brando E vai fugindo, e tonto vai andando A perder-se nas brumas dos caminhos.

Meu coração o místico profeta, O paladino audaz da desventura, Que sonha ser um santo e um poeta, Vai procurar o Paço da Ventura…

Meu coração não chega lá decerto… Não conhece o caminho nem o trilho, Nem há memória desse sítio incerto…

Eu tecerei uns sonhos irreais… Como essa mãe que viu partir o filho, Como esse filho que não voltou mais!

Trocando olhares - 23/04/1917

Vulcões

Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal Não tem a lividez sinistra da montanha Quando a noite a inunda dum manto sem igual De neve branca e fria onde o luar se banha.

No entanto que fogo, que lavas, a montanha Oculta no seu seio de lividez fatal! Tudo é quente lá dentro…e que paixão tamanha A fria neve envolve em seu vestido ideal!

No gelo da indiferença ocultam-se as paixões Como no gelo frio do cume da montanha Se oculta a lava quente do seio dos vulcões…

Assim quando eu te falo alegre, friamente, Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!

Trocando olhares - 04/05/1916

Sonhos

Ter um sonho, um sonho lindo, Noite branda de luar, Que se sonhasse a sorrir… Que se sonhasse a chorar…

Ter um sonho, que nos fosse A vida, a luz, o alento, Que a sonhar beijasse doce A nossa boca… um lamento…

Ser pra nós o guia, o norte, Na vida o único trilho; E depois ver vir a morte

Despedaçar esses laços!… …É pior que ter um filho Que nos morresse nos braços!

Trocando olhares - 12/08/1916

Mistério Gosto de ti, ó chuva, nos beirados, Dizendo coisas que ninguém entende! Da tua cantilena se desprende Um sonho de magia e de pecados. Dos teus pálidos dedos delicados Uma alada canção palpita e ascende, Frases que a nossa boca não aprende, Murmúrios por caminhos desolados. Pelo meu rosto branco, sempre frio, Fazes passar o lúgubre arrepio Das sensações estranhas, dolorosas… Talvez um dia entenda o teu mistério… Quando, inerte, na paz do cemitério, O meu corpo matar a fome às rosas! (in Antologia de poetas Alentejanos) Escreve-me ... Escreve-me! Ainda que seja só Uma palavra, uma palavra apenas, Suave como o teu nome e casta Como um perfume casto d'açucenas! Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo Que te não vejo, amor!Meu coração Morreu já,e no mundo aos pobres mortos Ninguém nega uma frase d'oração! "Amo-te!"Cinco letras pequeninas, Folhas leves e tenras de boninas, Um poema d'amor e felicidade! Não queres mandar-me esta palavra apenas? Olha, manda então...brandas...serenas... Cinco pétalas roxas de saudade... Amar! Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui...além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente Amar!Amar!E não amar ninguém! Recordar?Esquecer?Indiferente!... Prender ou desprender?É mal?É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar... Lágrimas ocultas Se me ponho a cismar em outras eras Em que ri e cantei, em que era q'rida, Parece-me que foi noutras esferas, Parece-me que foi numa outra vida... E a minha triste boca dolorida Que dantes tinha o rir das Primaveras, Esbate as linhas graves e severas E cai num abandono de esquecida! E fico, pensativa, olhando o vago... Toma a brandura plácida dum lago O meu rosto de monja de marfim... E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma! Ninguém as vê cair dentro de mim! Tédio Passo pálida e triste. Oiço dizer "Que branca que ela é! Parece morta!" E eu que vou sonhando, vaga, absorta, Não tenho um gesto, ou um olhar sequer... Que diga o mundo e a gente o que quiser! -O que é que isso me faz?... o que me importa?... O frio que trago dentro gela e corta Tudo que é sonho e graça na mulher! O que é que isso me importa?! Essa tristeza É menos dor intensa que frieza, É um tédio profundo de viver! E é tudo sempre o mesmo,eternamente... O mesmo lago plácido,dormente dias, E os dias,sempre os mesmos,a correr...Balada Amei-te muito, e eu creio que me quiseste Também por um instante nesse dia Em que tão docemente me disseste Que amavas 'ma mulher que o não sabia. Amei-te muito, muito!Tão risonho Aquele dia foi, aquela tarde!... E morreu como morre todo o sonho Deixando atrás de si só a saudade! ... E na taça do amor, a ambrosia Da quimera bebi aquele dia A tragos bons, profundos, a cantar... O meu sonho morreu... Que desgraçada! .................................... E como o rei de Thule da balada Deitei também a minha taça ao mar ... Mais alto Mais alto, sim! mais alto, mais além Do sonho, onde morar a dor da vida, Até sair de mim! Ser a Perdida, A que se não encontra! Aquela a quem O mundo não conhece por Alguém! Ser orgulho, ser àguia na subida, Até chegar a ser, entontecida, Aquela que sonhou o meu desdém! Mais alto, sim! Mais alto! A intangível! Turris Ebúrnea erguida nos espaços, À rutilante luz dum impossível! Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber mal da vida dentro dos meus braços, Dos meus divinos braços de Mulher! (in Antologia de Poetas Alentejanos)
Biblioteca Municipal - Florbela Espanca - Matosinhos - Portugal

Em 7 de Dezembro de 1990, a Biblioteca Municipal passou a chamar-se Biblioteca Municipal Florbela Espanca, poetisa alentejana. nascida em Vila Viçosa, que viveu os últimos anos da sua vida em Matosinhos, onde faleceu aos 36 anos de idade. A Biblioteca possui da escritora uma razoável colecção de documentos, que devem, naturalmente, fazer parte do Fundo Local.

A 9 de Maio de 2005 foi inaugurado o edifício da nova Biblioteca e ”Centro Cultural”, da autoria do arquitecto Alcino Soutinho, passando assim a funcionar neste local a Biblioteca Municipal Florbela Espanca, a Galeria Municipal e o Arquivo Histórico. A transferência para este espaço permite oferecer aos utilizadores e funcionários da Biblioteca, espaço e condições de fruição dos serviços e de realização de outras actividades, e também de condições de trabalho que já se tinham tornando bastante limitadas no edifício do Palacete de Trevões. Assim, a Biblioteca Florbela Espanca, objectiva a adaptação a uma nova realidade, melhorando os serviços prestados à população e tornando-se o centro de uma rede concelhia, através do projecto de criação de pólos de leitura nas diversas freguesias, compromisso assumido com a assinatura do contrato-programa com o IPLB de apoio a construção e montagem da biblioteca.

Parque dos Poetas - Oeiras - Portugal
Florbela de Alma Conceição Espanca (1894-1930) um pouquinho sobre ela:
nasceu em Vila Viçosa e faleceu em Matosinhos. Estudou em Évora, onde concluiu em 1917 o curso liceu, matriculando-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É por essa altura que publica as suas primeiras poesias. Tendo casado várias vezes e tendo sido em todas elas infeliz, começou a consumir estupefacientes. Só depois da sua morte é que a poetisa viria a ser conhecida do grande público, tendo contribuído para isso a publicação de Charneca em Flor (1930) pelo professor italiano Guido Batelli. Das suas obras destacam-se: Livro de Mágoas (1919), Livro de Sóror Saudade (1923), Charneca em Flor (1930), Relíquia (1931), A Máscara do Destino (1931) e Dominó Negro (contos, 1931).

Na Enciclopédia Larousse, essa poetisa é definida como «parnasiana, de intenso acento erótico feminino, sem precedentes na Literatura Portuguesa. A sua obra lírica, iniciada em 1919, com o Livro das Mágoas, antecipa em seu meio a emancipação literária da mulher»

A Biblioteca Florbela Espanca integra a rede nacional de leitura pública, e como tal assume os fins e objectivos do Manifesto da UNESCO, documento orientador do papel das bibliotecas desta tipologia:

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Resultados de tradução

21 comentários:

  1. Florbela Espanca foi uma mulher que esteve a frente de seu tempo.
    Sinto-me honrado em fazer parte da Blogagem Coletiva, obrigado Flor pela iniciativa.
    Eu resolvi ir além de postar apenas um poema. Postei 36, e foi difícil de escolher pois sua obra é grandiosa e de excelente qualidade.

    Obrigado Florbela!

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  2. Valter tudo perfeito mesmo...Parabéns pelo bom gosto.


    Um abraço querido.

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  3. Meu querido amigo,
    que bela homenagem à nossa poetisa do coração! Amei.
    Já postei a minha também, depois se der dê uma passadinha lá pra ver ok? Beijos.

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  4. Muito bonita a sua homenagem. Musica belissima a acompanhar uma selecção de poemas da melhor escolha.
    Parabéns.
    Abraços

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  5. Bom dia, meus queridos!

    Chegamos ao grande dia da Blogagem em homenagem a Florbela Espanca.

    Tanto ansiei por este dia, e eis que, por caprichos do acaso, desde sábado estou com problemas sérios de conexão, e hoje estou aqui graças ao PC de uma Lan House... Cheia de vontade de ler os seus posts, que tão carinhosamente estão sendo publicados, mas por hora impossibilitada... A presença do técnico está marcada para hoje às 16.00 h. Espero que tudo volte ao normal para que possa, além de me deliciar com as suas postagens, publicá-las no Interlúdio com Florbela, como uma pequena forma de agradecer pelo carinho de vocês... Conto com a compreensão de todos... Beijos!

    Flor ♥

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  6. Minha nossa!!!

    Você é mesmo fa da Florbela. Que idéia sensacional a sua: um poema dela para cada ano de vida.

    Parabéns!

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  7. Olá Poeta Valter!
    Como é magnifico começar o dia saboreando tantas poesias lindas!!!

    Ótima seleção de Florbela, estou maravilhada!

    Abraços com flores.

    Marli
    Palavras Rabiscadas
    http://mscamp.wordpress.com/

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  8. O domínio da Estatística e da Matemática aliado ao conhecimento político e cultural te fazem um economista, logo, seu raciocínio econômico e matemático possibilita uma visão ampla para analisar diferentes vieses e, nesse cenário, nasce “O Poeta”, que revela por meio das palavras a essência das coisas que seus olhos e alma captam, alma essa, lapidada com o espírito de um javali, admirado por ser corajoso, temperamental, ingênuo, cercado por uma aura de mistério permeada com emoções fortes. Como um bom Libriano cultiva uniões, equilíbrio, alegoria, arte e música, quesitos expressos em todo o seu blog.
    Valter Montani, O Poeta, cujo sobrenome, é Sensibilidade, sempre tão elaborada por expressar, divinamente, o conjunto de seus sentimentos e sensações, ao modo como os experimenta, retratada no calor dos seus sentimentos, que aproxima e aconchega. E, por saber que para o “Poeta Sensibilidade” cada escrito é como se fosse um filho, é que podemos compreender que em tais escritos há sentimento, que por sua vez, é o seu mais íntimo, algo que não se pode comunicar, por isso o blog é uma brilhante idéia, visto que você Poeta, busca expressar seus sentimentos poéticos e intuitivos em cada detalhe divulgado. É sempre um deleite, viajar em sua sensação, que informa seus sentidos fundamentados no mundo que você enxerga.
    Fica aqui “Poeta Sensibilidade” a minha admiração, pelo modo que você olha para as coisas, como ouve, como pensa, pois bem sei, que cada gesto seu, aqui expresso em seu blog, envolve silêncio, passividade e escuta, que reúne, estabelece pontes e reintegra suas capacidades.
    Fraterno abraço,
    Angel.

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  9. Olá querido Valter...

    Gradiosa homenagem á Poetisa Florbela Espanca... Os 36 Poemas foram maravilhosamente escolhidos... Adorei Amigo!...
    Gostava que visses a minha... Escrivi um Soneto dedicado á sua morte...

    Beijinhos de carinho e ternura,
    Fernandinha

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  10. Florbela Espanca é mais um nome que em vida não obteve reconhecimento merecido e isso é triste, muito triste.
    Cadinho RoCo

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  11. Olá meu amigo!
    Uma bela e merecida homenagem à essa poetisa iluminada.
    As canções, os poemas e seu blog, tudo de muito bom gosto.
    Parabéns amigo.
    Ela bem o merece...
    Deixo aqui meu abraço de muita luz e paz em seus caminhos.
    Beijos amigo.

    Regina Coeli.

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  12. Nossa, isso é que é homenagem!!!

    "Florbela é a flor maior da poesia romântica,
    é o sofrimento em versos de um soneto
    é o amanhecer mais belo de um encanto
    é aquela que se perdeu pra se encontrar."
    (Lustato)


    Adoro Florbela!

    Abraços!

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  13. Estou muito feliz de poder participar dessa iniciativa. Pouco conhecia de Florbela mas o pouco que conhecia me apaixonei, agora que muito conheço minha paixão maior ficou!

    Você realmente está de parabéns, suas escolhas foram perfeitas, suas explicações repletas de informações e bem se sente a sua paixão por tão notável poetisa, quanto mais leio sobre ela mais me apaixono por seu grandioso legado1

    Beijos e que Deus te ilumine seu espaço é maravilhoso, voltarei mais!

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  14. Agradeço pelas visitas e comentários amigos estou visitando pelo menos os que deixaram comentários para retribuir pois eu tive um problema de conexão. Peço desculpas por não ter respondido antes. e Viva a obra de Florbela!

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  15. Amigo, isto sim é uma grande postagem. Aproveitei e li alguns dos poemas que não conhecia. Porque não disponho de tempo para ler na integra.
    Um abraço e uma boa semana

    P. S. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Conhece Alda Lara?

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  16. A escolha dos 36 poemas (adorei os 36 poemas, um para cada de vida) foi sensacional. Parabéns!
    Eu tinha visto algumas fotografias da escultura de Florbela, mas não diziam onde era. agora que sei, fiquei com muita vontade de visitar ...
    Abraços!

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  17. *****

    Valter,
    Estou com dificuldades para deixar comentário em seu blog... :(
    Insisto, no entanto, para lhe deixar meu carinho e dizer que amei a postagem em homenagem à amada poetisa! Maravilhosa sua forma de demonstrar o amor à querida Florbela!
    Também participei com meus blogs. Ontem devido congestionamento não consegui visitar os blogs participantes da Blogagem Coletiva, que foi um sucesso!
    Tenha uma ótima semana!

    Sintonias do Coração

    ETERNOS SONHARES

    Coisas da Helô ©


    Beijos

    *****

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  18. Puxa, Valter!

    36 poemas!!!???
    E, destes, os 3 primeiros são os meus preferidos! Bravo!

    Isto é o que eu chamo de uma corrente do bem! Como é que se poderia chamar uma iniciativa que enche de poesia a blogosfera? Aqui está uma excelente oportunidade para que todos conheçam um pouco mais sobre a genial Florbela Espanca.

    Eis um trecho de "Ser poeta", de Florbela:

    "Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
    Do que os homens! Morder como quem beija!
    É ser mendigo e dar como quem seja
    Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!"

    Parabéns a todos que estão participando!

    Sensata Paranóia

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  19. Quase um ano depois, amigo, venho aqui deixar meu carinho especial porque essa homenagem tocou-me profundamente. Esse ano, 2009, vamos repetir a dose????
    Tenho sonetos escritos por mim em homenagem a essa maravilhosa e nunca entendida mulher flor das Charnecas!
    Poebeijos! Fados Lindos!

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  20. Adoro Florbela,
    não somente seus poemas me envolvem
    bem como
    sua historia!
    Perfeito.
    Volto com certeza pa ler todos!
    Bjins entre sonhos e delírios

    ResponderExcluir
  21. Estava procurando alguns poemas de Florbela e cheguei até seu blog. Amei o post e os poemas.
    Parabéns pelo blog e obrigada por disponibilizar esse maravilhoso conteúdo ;)

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Este Blog foi criado para divulgar minhas poesias e fotografias e fazer novas amizades. Claro que cultivando sempre as amizades que venho criando no decorrer dos anos. Sou um Poeta que foi "de gaveta" se tornando conhecido graças a Internet e aos amigos que me incentivam e divulgam sempre. A Poesia inicialmente serviu para que eu quebrasse o muro que me separava das demais pessoas, barreira que eu mesmo criei pela postura rebelde e radical. Cada escrito é como se fosse um filho, portanto cuide bem deles e não esqueça sempre de mencionar o nome do pai. Valter Montani Algumas imagens que eu estou utilizando foram encontradas na Internet sem os devidos créditos, qualquer dúvida ou reclamação de autoria peço a gentileza de entrar em contato comigo através do e-mail. Valter Montani "In perpetuum Omnia sunt bominum tenui pendentia filo Peractis peragendis, ermitte divis cetera Post nubilas Phoebus Omnia vincit amor et nos cedamus amori Per omnia saecula saeculorum." da amiga Karla Julia

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